quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

couve roxa



























sentada na sala, almoço sozinha. é bom, é calmo. da porta da varanda vejo telhados velhos, árvores, céu e gaivotas. a sala está na penumbra, tento habituar-me à escuridão, ultrapassar esta necessidade de luz, que não sei de onde vem. da taça à minha frente, vou comendo atum, couve roxa, nozes e tomate, e percebo que os alimentos crus demoram muito a mastigar. a couve é dura, o tempo da refeição é obrigatoriamente mais longo e os sabores modificam-se durante a mastigação. a couve sabe a nabo, e eu volto a ser criança quando comia os legumes todos crus saídos da terra.

enquanto mastigo a infinita couve lembro-me daquela mulher de ar sereno e íntimo revolto, que ao fechar aquele círculo, em terras mágicas daqui do norte, agradecia ao pai céu e à mãe terra pelo alimento, pelo abrigo, pelo acolhimento. quantas vezes as gentes perdidas na busca pela espiritualidade, esquecem a abundância, que lhes chega da condição humana, de ser divinamente terreno. 













2 comentários:

  1. Por vezes bastam as coisas mais simples :) devia ser sempre assim, nós é que nos esquecemos.

    Olá Ana :)

    (as vacas têm um estômago com quatro compartimentos por alguma coisa é, comer couve cansa!) :)

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  2. se cansa... a couve roxa é dura...

    Olá quarto andar :) aqui, do segundo direito...

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