sábado, 16 de setembro de 2017

o homem-terra









explico ao homem-terra que, embora saiba o que devo fazer, a violência que isso seria para mim, provocar-me-ia um choque tal, que teria mais de nocivo do que benéfico, mesmo sabendo que a longo prazo me poderia trazer estabilidade e conforto. 
'quero com isto dizer que tudo tem o seu tempo, o seu período de maturação. não tem que ser agora o momento.'. 
'isso és tu a boicotar-te', diz-me, 'és tu a não querer mudar. é-te mais fácil permaneceres numa situação fraca, mas que conheces, do que mudares algo, para uma situação que desconheces, mesmo que saibas que é o correcto'.
'eu ainda acredito na força da mansidão, no peso do exemplo, na energia do coração. tu és uma recalcada. vejo-te em tempos idos, mãe de uma carrada de filhos, gorda, de avental à cintura, de bigode e cabelo oleoso, a trabalhares como uma moura e a seres maltratada por eles'
o homem ri.
'tu tens razão. continua assim como és.'
'vai pentear macacos. estás a gozar comigo'.
e dá-me um abraço daqueles que eu não largo, daqueles em que eu descanso o peso da alma.










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