sexta-feira, 15 de setembro de 2017

a mulher que lava memórias no rio com o olhar perdido no mar




















há pessoas que quando nos abraçam, abraçam. então é assim como se nós, neste caso eu, descansasse nesses abraços, me despisse de todo o cansaço, de todo o peso. são abraços envolventes, abraços verdadeiros, é o tal encontro de dois corações.

hoje, a mulher que lava memórias no rio com o olhar perdido no mar, desfiava as horas sentada no miradouro da senhora da guia, ali onde o rio entra pelo mar e o mar abraça o rio. a mulher é pequena, veste roupas largas e deixa os cabelos cinzentos esvoaçarem à vontade do vento, que é muito este dia último de semana de canseiras. fala com quem passa, da mesma forma que ouve o que as árvores lhe dizem, ou o que a areia silenciosa lhe conta sobre a nudez com que se oferece a quem partilha o caminho com ela. acontece que hoje, a mulher que lava as memórias no rio com o olhar perdido no mar, falava desse partilhar do peito com o peito, e dizia que a entrega que depositamos nesse entrelaçar, é a forma com que enlaçamos a terra toda, a humanidade toda, porque cada um, cantarolava ela, é um grão desse imenso areal a que se dá o nome de todo. se me abraçares, falava ela, abraçarás a humanidade. não precisas de ser grande, precisas de ser intensa - e ria adivinhando-me a sensação de que tudo o que faço, é pouco, e fazendo-me sentir que todo esse pouco é parte desse imenso todo.















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