sábado, 19 de novembro de 2022

já nem sei dizer quando

 



eu não lhe sei dizer quando esqueci o meu corpo. foi assim como o passar do tempo, que não sentimos, que se nos escapa... eu esqueci o meu corpo debaixo das roupas, debaixo dos panos, debaixo do olhar, debaixo da atenção, debaixo dos dias, debaixo das tarefas, a encorrilhar-se solitariamente. assim como um marido deixa de ver a mulher a quem jurou amar.

também não lhe sei dizer, forasteiro, quando me tornei a lembrar dele, e retirei as roupas, e prestei atenção às pregas, à carne a ameaçar mais cansaço que frescura. e então deslizei a mão pela sua ondulação, e hidratei-o, perfumei-o, abençoei-o, e refiz as promessas que sempre adiei.





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