terça-feira, 12 de junho de 2018

Endireita





No local de espera, ao ar livre, onde debaixo de uma ramada de kiwis tento apanhar réstias de sol que amenizem o frio da nortada que finta o fino tecido do vestido que trago,  o homem ao meu lado enumera, para que o filho o ouça, diversas formas de matar pardais; no alpendre, um grilo enjaulado e um canário engaiolado soltam sons que se quer crer que sejam cantos, e não lamentos; o homem carrancudo à minha frente tem a unha do dedo mínimo enorme, assim como a unha do polegar do outro que se senta à minha esquerda, chego a pensar que seja um nail code.
Arrasto a minha cadeira de plástico para o sol e chego a sentir -me contente por não chover. A mulher do endireita passa com o seu avental debruado a galinhas, gemendo de dores e agarrada ao abdómen. Espero que não seja dos ossos que ela se queixa.





4 comentários:

  1. Seria caso para dizer "Casa de ferreiro, espeto de pau"!

    Boa semana, ana. :)

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  2. isso nã é um bom prenúncio... cuidado com o sol!

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    Respostas
    1. tenho que consultar o oráculo...
      os pardais estão contentes com o sol. se fosse o outro, fazia um arroz com eles.

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