terça-feira, 4 de julho de 2017

não fosse ele ser jeitoso












a alexandra, uma mulher com cerca de 45 anos, que rodopia levando e trazendo cafés, torradas, pasteis e copos de água fresca, com uma competência que a distingue das raparigas mais novas, pisca o olho e faz sinal para que se olhe para a mesa atrás dela, onde está sentado um homem que se entretém a deslizar o dedo pelo ecrã de um aparelho digital. 'é o meu homem', diz ela só com os lábios, sem soltar palavras com som. 'olha que é muito bom!' dizem-lhe. 'pois é. eu sei. é por isso que o aturo, senão já lhe tinha dado um pontapé e mandado daqui para fora. veio do brasil, sabe?'. a alexandra não precisa de diálogo, basta-lhe um monólogo direccionado para soltar o que lhe vai na alma. 'mas chateamo-nos. não fosse ele ser jeitoso, dizia-lhe onde ia parar. ontem, à saída do restaurante, depois de jantar, moeu-me o juízo como sei lá o quê. abri a carteira, tirei um calmante - trago-os sempre comigo - meti à boca, encostei a cabeça e deixei-o falar a viagem toda de volta a casa. quando cheguei, deitei-me e dormi como um anjinho. viver não custa, o que custa é saber viver. olhe o que eu lhe digo'. eu olhei.











6 comentários:

  1. ...bem esse calmante faz milagres, é?![risos]
    Beijo de bom dia Ana ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. conserva o casamento dela :)
      talvez não seja um calmante, mas um conservante.
      beijo, Goti

      Eliminar
  2. ah, ah...quantos casamentos não se conservam assim:)
    ~CC~

    ResponderEliminar
  3. Tem toda a razão a alexandra, viver não custa, custa é saber viver. Passamos a vida inteira a aprender e nunca conseguimos :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. tirar o melhor de cada situação... nem estou certa de que ela consiga :)
      bom dia, Maria

      Eliminar