terça-feira, 14 de junho de 2016

um deus dará














começo os meus dias a entrar-me pelos olhos dentro o que de pior há no mundo, e os meus olhos perdem-se no saltitar dos pardais enquanto trabalho, parágrafo a parágrafo, enquanto procuro imagem a imagem, rostos sofridos, rostos impermeáveis, rostos sádicos, cidades e aldeias destruídas. e então, lá se perdem os meus olhos outra vez nas aves que insisto em alimentar para que não me deixem a varanda nem o olhar vazios, ou cheio daquela realidade que magoa por dentro.

comentava com um dos meus filhos, um dia destes, a propósito de uma reportagem, que no meio do país mais miserável, dos milhares de deslocados, das guerrilhas, dos grupos terroristas, há sempre alguém que conhece o ronaldo, o messi, o pepe, talvez. e fico a pensar na ironia disto tudo. pessoas que ganham a vida a dar pontapés numa bola, e rasgam sorrisos na áfrica profunda, em crianças maltratadas, subnutridas. 

sei lá. deus deve ter perdido a mão nisto tudo.

e é com toda a calma que escrevo 'segundo refém canadiano decapitado pelo grupo islamita...'. cá dentro do peito, o meu coração dá coices, literalmente coices, e eu pergunto-me porquê, porque não fica ele sossegado.
















4 comentários:

  1. O coração não pode ficar sossegado, não, "Quando a tua casa está de frente para a derrocada/Como um ninho a fazer-se por um pássaro que não chega" (Daniel Faria).

    Um beijinho, querida ana

    ResponderEliminar
  2. a minha casa está de frente para a capela do socorro, e os pássaros chegam...

    beijinho, Miss.
    (quero muito que estejas bem)

    ResponderEliminar
  3. estás na metalúrgica, Manuel Sol Nascente?

    ResponderEliminar