segunda-feira, 6 de junho de 2016

às vezes fazes-me falta






















as festas sanjoaninas já começaram aqui na terrinha. vai ser quase um mês em festa. foguetes, bailaricos, grupos e cantores, ranchos e cantigas ao desafio. os dirigentes camarários fazem de tudo para que o povo esqueça as dificuldades do dia-a-dia.

ontem à noite, a música dos ranchos ouvia-se de igual forma na rua, como na minha sala onde eu procuro o silêncio, sempre que posso, o maior silêncio possível. e desci. fui para a praça, para o meio das gentes, simples, gentes das aldeias, mulheres de socas, camisas de rendas e saias justas, homens de calças no fundo das barrigas, camisas brancas, e sorrisos, e braços por cima dos ombros, e mulheres a dançarem com mulheres, e homens a dançarem sozinhos, e crianças a ensaiarem os passos, e casais encostados, ele aconchega-lhe a gola do casaco ao pescoço, e riem-se e batem palmas. ninguém nota como a maré vaza do rio cheira mal, cheira a lodo, e a chuva ameaça cair. 

a maior prática de espiritualidade - na minha opinião, claro - ali, naquele palco pequeno, naqueles tocadores de concertinas, naquela assistência, na manuela e no ribeiro, que cantaram ao desafio. a alegria, a simplicidade e a gratidão.

é nestas alturas que me falta o brilho dos teus olhos.



















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