deitada na cama, com as pernas à chinês, tentando disciplinar os pés que não param de mexer, olho à minha volta e pergunto-me porque volto sempre para aqui, a este quarto, a esta casa. sei que lá dentro estão os rapazes já homens a dormir. gosto de pensar que já não precisam de mim. toda a vida esperei que eles crescessem e não precisassem de mim. desde que nasceu o primeiro, em 1994 que trago colado aos olhos as imagens do genocídio do ruanda e crianças orfãs a caminharem, nuas, esfomeadas, desamparadas, pelas estradas. é um alívio, eles, os meus, homens.
e então pergunto-me, deitada e disciplinadinha, porque volto aqui, a este lugar, que nunca me senti de lugar nenhum, mas volto sempre. é por isso que me encanto com aquele homem que encontro sempre sozinho, com barba e cabelo de quem não se cuida, às vezes bicicleta na mão, outras sentado num banco em frente ao rio, (lá está a pardala manca), também já o vi a mexer em contentores do lixo. um dia destes falo com ele, parece-me, segundo me conheço, ou não.
a árvore aqui em frente também está sempre aqui e é abrigo e vida para tantas criaturas. a sua liberdade está nas raízes e quando a vejo sem ser com os olhos, ouço-a.
como é bom ler-te , ana.
ResponderEliminarE eu gosto tanto do teu escrever que gostava de o fazer como tu. Mas não consigo deixar de ser eu...tentei..
ResponderEliminarBom feriado...
[não deixes de ser como és, a tua voz é tão bonita, ana.]
ResponderEliminar[obrigada, flor]
ResponderEliminarvoltamos sempre que uma parte de nós fica agarrada a algo... nã? como raízes...
ResponderEliminarNã....
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